sábado, 22 de agosto de 2015




AS ESCOLAS PRIMÁRIAS DO NOSSO CONCELHO

 Monumentos da nossa memória 


Nostalgia.
O edifício da escola primária foi o nosso primeiro local de trabalho. Ali se cumpria o primeiro horário. Ali se conheciam os primeiros colegas do ofício. Ali se criaram amizades, mais ou menos duradouras. Quatro anos de calendário (entre os 7 e 11 de idade) era o tempo normal para se obter o exame da 4ª classe. Durante este tempo ali usufruímos do trabalho e dedicação dos nossos professores, salpicado aqui ou ali de atitude mais ríspida. Recordamos a sala de aula: o quadro preto na parede, a mesa do professor, o ponteiro, as carteiras dos alunos, os tinteiros, os mapas na parede. E também a menina-de-cinco-olhos, a amiguinha que, ora justa ora injustamente, frequentava uns mais que outros, mas que regra geral a todos visitava. Recordamos a saca de pano, onde fomos carregando a ardósia, o lápis de pedra, o caderno, a tabuada, os livrinhos de leitura das 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, da aritmética, geometria, geografia, história, gramática. Livrinhos que se foram extraviando, mas cujas reimpressões ora nos permitem recuperar e guardar. Está tudo em memória.    
E claro que hoje (2015) existem outros manuais, outras filosofias, outros autores. Mas não é a mesma coisa. É que não foram estes, mas aqueles autores e professores de meados do século passado (anos cinquenta) que nos botaram ao mundo das letras e das ciências. Que nos deram asas para tomar novos rumos! Obrigados mestres! Bem-haja! 

Histórico.
Vindas da Monarquia, da 1ª República ou do «Plano dos Centenários», (Estado Novo), nas freguesias de Castanheira de Pera e Coentral funcionaram plenamente escolas primárias em:    
·       Coentral
·       Pera
·       Bolo
·       Castanheira
·       Gestosa
·       Troviscal
·       Moita
·       Sarzedas

Lugares com um ou dois edifícios. Escolas com uma ou mais salas de aula. Seria interessante existir um livrinho com a história de cada uma destas Escolas. Sua tipologia. Ano de construção. Ano de instalação. Custo da obra. Forma de pagamento. Legados. Outros elementos do processo. Fotos várias. Professores que, no todo ou em parte, nela leccionaram. Alunos que, no todo ou em parte, a frequentaram. Eventos que nela ocorreram. (A título de exemplo recordamos em 1955 uma gravação (canto) dos alunos do Prof. António Maria Saraiva, para uma programa da Emissora Nacional). Alguns destes elementos ainda existem na memória das gentes, mas carecem de ser despertados, conversados para se transmitirem. Muitos outros existirão porventura em escritos dispersos no espaço e no tempo. Mas sem a junção, a presença e a consulta que o livro sempre proporciona. E seria interessante porque estes edifícios constituem para muitos dos seus antigos alunos pequenos monumentos, quantas vezes dizendo-lhes mais do que alguns outros maiores que se visitam pelo país.   

Centenários.
O denominado «Plano dos Centenários» foi um programa de construção de Escolas Primárias, projectado, aprovado e executado pelo Estado Novo (l940-1960). «Centenários» porque em 1940 se celebrou o «3º centenário» da restauração da independência (1640-1940) e em 1943 se viveu o «8º centenário» da fundação na nacionalidade (1143-1943). Para saber mais insira «plano dos centenários» na janela «Google» e confira textos e imagens. 

Encerramento.
É do domínio público que todas as escolas primárias do nosso concelho foram sendo sucessivamente encerradas durante os últimos dez anos. E que os respectivos alunos foram transferidos para o Agrupamento de Escolas Dr. Bissaya Barreto, a funcionar, condignamente, na imediação da vila.   
Foi, afinal, o que sucedeu por toda parte. Aldeias desertificadas. Diminuição da natalidade. Novo reordenamento da rede escolar. Resultado: quatro ou cinco mil escolas primárias encerradas por todo o país, (continente e regiões autónomas). 
E que destino se tem dado a estas escolas assim encerradas? Certamente os mais diversos, consoante as circunstâncias locais. Mas, as noticias publicadas fazem-nos saber que geralmente se têm mantido na área das humanidades. Convertidas em bibliotecas, museus, livrarias. Escolas de música, canto, cante e dança. Associações culturais, desportivas e recreativas. Actividades seniores. Gabinetes de estudo, exposições, conferências. E nos casos em que têm transitado para a habitação social, restauração, turismo, o protocolo vincula a manter a sua «traça», a conservar a sua «alma»: aqui existiu uma escola!
Existem hoje aldeias serranas em que, tendo fechado todo o comércio local, o edifício da antiga escola primária constitui o único lugar de conchego e convívio de inverno. E de verão o procurado ponto de encontro de diálogo e alegre convívio entre gerações. Sublime!
                                                                                                                  
                                                                                                                    Francisco H. Neves
Texto publicado inicialmente no jornal O RIBEIRA DE PERA in :
http://www.oribeiradepera.com/francisco-h-neves-cronica-da-fraga-as-escolas-primarias-do-nosso-concelho-monumentos-da-nossa-memoria/#.VdiJeP3luvE

domingo, 19 de julho de 2015


TEXTO ESCRITO EM 1954 POR FRANCISCO HENRIQUES TEIXEIRA


(Funcionário do Registo Civil e Notariado de Castanheira de Pera)

NOBRE A EXPRESSÃO – FUNDA A MOTIVAÇÃO

  

Personalidade.
Francisco Henriques Teixeira nasceu no dia 21/4/1916, na vila de Castanheira de Pera, filho de Abelino Henriques e de Maria Emília. E aqui faleceu no dia 3/7/1988, no estado de casado com D. Maria da Soledade Tomaz, filha de Jacob Tomaz, da Sapateira. Tinha 72 anos de idade. Depois de alguns anos de estágio no privado (Pomar), ingressou oficialmente, no quadro do Registo Civil e Notariado de Castanheira de Pera, no dia 11/7/1938. E aqui se manteve até à sua aposentação em 21/4/1986, por limite de idade, (70 anos). Para trás deixou 48 anos de efectiva e rara dedicação ao serviço. Foram 48 anos de exercício diário, permanente, sem nunca ter tirado, sem nunca ter gozado uma única semana de férias! Isto tem de ser dito em voz alta e consignado para história futura, porque tal feito constitui, porventura, caso único a nível nacional. Passado e documentado aqui em Castanheira de Pera!

Teve, sucessivamente, como chefes da repartição, (conservadores-notários): Dr. Marcolino da Silva, Dr. Álvaro Amorim Pinto, Dr. José Bebiano Correia Henriques da Silva, Dr. Henrique Vaz Lacerda, Dr. António Bebiano Correia Henriques Carreira, Dr. José António Risques da Silva, de todos granjeando consideração e estima. Classificado de «Bom com distinção», no âmbito do Ministério da Justiça.

Tinha a sua maneira peculiar de ser, que ainda hoje arranca um espontâneo sorriso nos amigos, quando dele se recordam… Mas para si não havia horário de trabalho, nem feriados, nem fins-de-semana, se necessário. Sempre prestável, mormente nas férias de verão, quando aqui ocorria gente vinda de toda a parte (Lisboa, Europa, África, Brasil), para tratar dos diversos actos notariais. É claro que este modelo de funcionário está hoje em desuso, além do mais, pelos inconvenientes que trás, para o próprio e para a sua família. Mas ele – certo ou errado - teve essa determinação, essa firmeza, essa vontade de demonstrar capacidade. Só que depois, além do mais, nem tempo de vida teve para gozar a sua pensão. Um caso para meditar.   

Nobreza.
No jornal «O Norte do Distrito», de F. Vinhos, na sua edição de 10/3/1954, vem publicado um artigo da sua autoria, intitulado «Castanheira de Pera – Vila prodigiosa», em que, além do mais, insere uma lista de ilustres personalidades nascidas em Castanheira de Pera, (caixa ao lado). Trata-se realmente de um elenco nobre, uma lista expressando a nobreza numa tripla dimensão. Desde logo nobre em sentido nobiliárquico, visto que abre com os nomes dos dois Viscondes, nascidos em Castanheira de Pera. Depois nobre em sentido académico, visto tratar-se de uma plêiade de diplomados pelas escolas superiores, oriundos desta terra geograficamente pequena, homens que vieram a exercer altas funções nas academias e nos quadros superiores do Estado. E nobre ainda no sentido do trabalho, visto que foram alguns destes diplomados, bem entendido, juntamente com outras personalidades e povo anónimo que, todos juntos, unidos, colaboraram, trabalharam, ergueram aqui em Castanheira de Pera uma indústria de lanifícios, referência económica em toda a região centro do País. E a propósito: existirá à face da terra, nobreza maior que o trabalho profícuo, seja desempenhado por gente anónima, diplomados ou pelos próprios nobres? Agora uma nota: esta lista de «O Norte do Distrito» foi, anos mais tarde, transcrita, actualizada e anotada em «O Castanheirense» de 13/12/1959 (Elementos para a História de Castanheira de Pera e seu termo). (Infra 1).  

Motivação.
Mas afinal o que terá levado Francisco Henriques Teixeira, a publicar este texto no jornal «O Norte do Distrito» em Março de 1954? Qual a sua razão de fundo? Será difícil encontrar-se alguém hoje (2015), mesmo dentre as pessoas mais idosas, que ainda se recorde do episódio. Mas, tanto quanto a nossa memória alcança, o que se terá passado foi sensivelmente isto: o nosso bom homem, na qualidade de funcionário notarial, dirigiu-se ao tribunal da comarca (edifício antigo), para tratar de acto oficial agendado. E terá sido aí que, um ilustre profissional do foro, se lhe terá referido à Castanheira, em termos que o bom Francisco, interiorizou como uma menorização da sua terra. Sentido lá no fundo da sua alma castanheirense, vem daí, elabora uma lista nobre e pede «…todo o respeito pela sua terra ».  E, para que a sua mensagem não fique pelo caminho, fá-la publicar exactamente na sede da Comarca!

Gratidão.
Francisco Henriques Teixeira foi assim, oficialmente, funcionário do Registo Civil e Notariado entre 1938 e 1986. A partir de 16/2/1959 fomos um dos rapazes que por ali se iniciou a aviar recados. Foi com ele que tomámos as primeiras noções de trato com público. E foi ali que folheámos pela primeira vez um código, como quem folheia um jornal. Obrigado mestre Francisco! E lá em «Cima», onde estiver, que esteja bem. Enquanto cá em baixo, todos podem visitar a sua foto e conhecer melhor a sua filosofia de vida, na desenvolvida entrevista que nos concedeu e está publicada no jornal «O Castanheirense», de Julho de 1983. (Infra 1).

 Francisco H. Neves


PS.  Texto publicado também no jornal O RIBEIRA DE PERA onde se encontram os links. para os jornais  «O Norte do Distrito» e «O Castanheirense» : 

    

quarta-feira, 24 de junho de 2015

 

 Crónica da Fraga

Por todo o concelho – As famílias dos «Henriques»

Patronímico.
Não vamos aqui fazer genealogia, que para tal não estamos habilitados. Mas uma simples constatação: existe uma grande implantação do sobrenome «Henriques» nas famílias do concelho de Castanheira de Pera. Há «Henriques» nos Coentrais, na Balsa e nas Sarzedas, na Gestosa Cimeira e na Fundeira, no Fontão e no Troviscal, muitos na vila e em outros lugares. E, todavia, não existe uma única família que seja conhecida pelos «Henriques». O «Henriques» é como que uma vogal doce junto de uma áspera a formar um ditongo. É possível que, desde a fundação da nacionalidade (séc. XII), haja Henriques aqui pela Ribeira de Pera. Mas, aparentemente, sem terem entrado no processo da questão dos baldios do Coentral (1467), nem no processo da criação da freguesia de São Domingos da Castanheira (1502). Certo é que em 1914, aquando da fundação do concelho, integraram a comissão instaladora oito personalidades de apelido «Henriques». Três efectivos: José Henriques Lopes, Celestino Henriques de Assunção, João Fernandes Henriques. E cinco suplentes: Carlos Henriques Carreira, Manuel Henriques Correia, António Henriques Lopes, José Henriques Miguel, Francisco Henriques. (Decreto in DG, II Série - Nº 151 de 1/7/1914). E desde então para cá - um século - tanta gente pública ou publicada de apelido «Henriques» se conhece: autarcas, camponeses, comerciantes, empresários, juristas, mesteirais, padres, professores, proprietários. Ainda recentemente Castanheira de Pera teve no Parlamento, em simultâneo, dois deputados de apelido «Henriques». É consabido que «Henriques» é o patronímico de «Henrique», adoptado por múltiplas famílias que, em termos de consanguinidade, nada têm a ver umas com as outras. Foi uma prática comum na Idade Média, quer na nobreza, quer no povo. Desde logo Afonso Henriques, por ser filho Henrique. O processo era simples é há outros patronímicos em português. (Infra site 1).

Gerações.
Cada geração computa-se, em média, nos 25 anos, donde em cada século cabem quatro gerações, quatro «Henriques», em linha recta: avô, filho, neto, bisneto, (masculino ou feminino). Assim, desde a fundação da nacionalidade até aos nossos dias, (oito séculos), cada «Henriques» de hoje é o «cabo» (caput) de uma fila de 32 ascendentes (8x4). Trinta e dois (32) «Henriques», cujo perfil terá variado ao longo das gerações. Todos poderão ter passado por fases de altos e baixos, grandes e pequenos, justos e injustiçados, legítimos e bastardos, nobres e plebeus, santos e pecadores. Cada «Henriques» de hoje será algo da sua ascendência desde os mais remotos arquiavôs. Cada um saberá da sua história. Mas se nada souber, obtendo uma certidão de nascimento ou baptismo de seu avô/avó «Henriques» algo ficará a saber do seu bisavô e trisavô. É pouco, mas para começar… Entretanto, há «Henriques» que vão ficando pelo caminho. Uns por falta de descendência, outros devido às afinidades que se vão constituindo, em que os apelidos da outra família também entram. Ainda assim, mesmo sem constar formalmente do assento, cada assim novo registado manter-se-á biologicamente um «Henriques» (consanguinidade).

Origem.
Mas afinal donde é oriunda esta plêiade de «Henriques» em toda a região de Castanheira de Pera? Também gostaríamos de saber… Mas não conhecemos estudo algum. Haverá, porventura, gente vinda de toda a parte. Mas afigura-se que o maior fluxo poderá ser oriundo de uma destas regiões ou das duas juntas: Primeira hipótese, um fluxo de «Henriques» (apelido) ou ainda «Henrique» (nome próprio), irradiando (fugindo) da região de Coimbra/Mondego, aquando das guerras da reconquista cristã (séc. XII), calcorreando estas serranias, nascentes do Alge, Pera e Mega, por aqui se refugiando e fixando. E quando hoje se diz haver por aqui muita gente de Mega, poderá tratar-se de gente que já antes por aqui transitara … Segunda hipótese, um fluxo de «Henriques» irradiando das terras da Beira Baixa para aqui se refugiar, aquando de datas e situações conhecidas: reis católicos expulsam judeus (1492); D. João II admite entrada; filha dos reis católicos casa com Manuel I de Portugal, na condição deste expulsar judeus; D. Manuel I por uma lei expulsa, mas por outra impede a sua partida, (por se tratar de cientistas, quadros superiores, banqueiros, artesãos, mercadores de têxteis, sedas e lanifícios); Cristãos-Novos (1497/1733); Criptojudaísmo; Inquisição (1536/1821). Sendo que o sobrenome «Henriques» foi um dos mais adoptados pelos cristãos-novos e dos mais citados nos documentos da Inquisição. (Infra site 2). Veja-se, a propósito, a saga dos «Henriques» do Sabugal (Infra site 3). Hoje está tudo mesclado. Mas é possível que tenha havido por aqui alguma miscigenação judaica. E que a própria indústria de lanifícios tenha aí a sua origem remota. Assunto para especialistas.

Testemunhos.
Mesmo ao visitante que nada conheça da terra, será fácil constatar a presença elevada dos «Henriques». Basta reparar nos epitáfios, nos quatro locais do concelho. Ainda agora, na edição de Maio, de «O Ribeira de Pera», dentre os nove decessos noticiados (necrologia), quatro são «Henriques». Outro indicador objectivo está nos baptizados, casamentos, falecimentos e vida do jornal, noticiados ao longo das 19 edições do jornal «O FACHO» - Boletim das Paróquias de Castanheira de Pera e Coentral, (1961/64), edições agora on-line na página electrónica. (Infra site 4).

Padre Adelino Henriques (1939-1988).
E, a terminar, uma referência à memória do Padre Adelino Henriques, nascido na Sapateira, no dia 9/5/1939, filho de Manuel Henriques e de Maria da Piedade Henriques. Foi ordenado na Sé Catedral de Coimbra no dia 28/6/1963 e no dia 15/8/1963 celebrou em Castanheira de Pera (Igreja Paroquial) a sua missa nova. Entre outros cargos foi director do jornal «A Voz do Papa». Faleceu em Coimbra no dia 12/9/1988, aos 49 anos de idade. Em sua memória convidamos os leitores a visitar a sua fotografia e a notícia desenvolvida da sua ordenação e missa nova, no jornal «O FACHO» de luz nºs 17/18, onde também se encontra a sua primeira saudação aos paroquianos da sua terra. Padre Adelino Henriques: «Um dos nossos ascendeu à dignidade do sacerdócio». (Infra site 4).

Francisco H. Neves


PS. Texto também publicado no jornal O RIBEIRA DE PERA de 16/6/2015, onde se encontram ativos os 4 sites citados :

quarta-feira, 27 de maio de 2015

 
Cronica da Fraga


 Jornal O FACHO (de luz)  


Histórico.

Abrindo o histórico da imprensa sediada nesta vila encontramos um título, geralmente desconhecido dos mais novos e que se vai apagando da memória dos mais velhos.
Trata-se de um jornal de inspiração e formação cristã.
Título - O FACHO. Símbolo – de luz.
Subtítulo - Boletim da Família Paroquial de Castanheira de Pera.
Propriedade da Igreja Paroquial, seu fundador e director o Padre Aurélio de Campos, ao tempo reitor de Castanheira de Pera.
Publicou-se mensalmente entre Abril de 1961 e Fevereiro de 1964.
Ao todo 19 edições correspondentes e 21 números de capa.
A partir de Agosto/Setembro de 1963 passou a «Boletim das Paróquias de Castanheira de Pera e Coentral» e em Janeiro/Fevereiro 1964 teve o Padre Manuel Freire Baptista dos Santos, Pároco do Coentral, como seu editor.
Os custos de manutenção ditaram a sua suspensão.
Era impresso na Gráfica de Coimbra.

A visão do cão com o facho aceso.

Este título «O FACHO» tem a sua génese na vida de São Domingos de Gusmão (1170 - 1221), fundador da OP - Ordem dos Pregadores (1215), canonizado em 1234, padroeiro da nossa vila.
Concretamente num sonho profético de sua mãe a Beata Joana d’Aza que: «Antes de conceber esta criança teve a visão de um cãozinho segurando na boca um facho aceso, com o qual parecia iluminar o universo inteiro».
«A imagem do cão que ladra às raposas devastadoras da vinha do Senhor é familiar na Idade Média. O símbolo de Domingos enriquece-se com este facho aceso; não é apenas um defensor da Igreja, mas um propagador do Amor e da verdade». (1)
«Com razão representam S. Domingos com um cão a seu lado, com um facho aceso na boca, tal qual sua mãe, a Beata Joana d'Aza, em sonhos, o vira sair do seu seio, porque iluminou o mundo com a sua doutrina e o abrasou com a sua caridade».
 
http://www.isdomingos.com/index.asp?art=21792
O conceito de «facho» significa aqui tocha acesa, chama, verdade, luz que ilumina o mundo. Não sendo legítimo introduzir-lhe sentido diferente da sua essência.
Já no século XIX existiram, pelo menos, três publicações com este título - 1864, 1881, 1885 - como regista a «Colecção de Jornais e Revistas Portuguesas».
https://books.google.pt/books?id=hbqZ5WfTMAgC&pg=PA317&lpg=PA317&dq=jornais+O+FACHO&source=bl&ots=xPRXz7hXta&sig=O2hw_F5Y2L6Sqb2OIyYU0GOCf-c&hl=pt-PT&sa=X&ei=881BVdOvOYi07gap5YFw&ved=0CCcQ6AEwAQ#v=onepage&q=jornais%20O%20FACHO&f=false



Colecção na página electrónica. 

Do jornal «O FACHO» - Boletim das Paróquias de Castanheira de Pera e Coentral, existe uma colecção completa, brochura, em Lisboa, na BNP - Biblioteca Nacional (Cidade Universitária), onde tem sido requisitada e onde continua disponível à consulta dos seus leitores, (cota J.2265V.)
Porém, a partir de agora, também a podemos folhear, número a número, aqui na página electrónica de «O Ribeira de Pera», conforme aí se indica a final deste artigo.
Dentre o conteúdo próprio de formação e informação cristã, das festas, baptizados, casamentos, falecimentos, visita pascal, noticiário diverso, encontrar-se-á sempre alguma coisa tocante das nossas vidas. E já lá vão mais de cinquenta anos
!  


Legado.

Do Seminário Maior de Coimbra, de que durante treze anos fora o Reitor (1998 a 2010), o Padre Cónego Aurélio de Campos publicou recentemente um livro, da sua autoria, «SEMINÁRIO DE COIMBRA – subsídios para a sua história» (436 páginas, formato 23x26), cuja sobrecapa contém uma legenda com a síntese da sua vasta acção pastoral a nível nacional e diocesano. (Depósito legal nº 381766/14).
Aqui em Castanheira de Pera o Padre Aurélio de Campos foi Pároco da nossa Paróquia durante 17 anos, entre 1 de Novembro de 1960 e 21 de Janeiro de 1978, período durante o qual desenvolveu intensa actividade pastoral, numa altura em que o concelho tinha mais de cinco mil habitantes (5.739 no censo de 1960).
A par da sua prática pastoral foi professor e impulsionador dessa obra enorme que foi o Externato São Domingos, ao tempo um verdadeiro facho de luz a iluminar a juventude de Castanheira de Pera.
E na imprensa escrita fica esta colecção de 19 edições do «Boletim Paroquial das Paróquias de Castanheira de Pera e Coentral», um marco, um pequeno monumento na história da imprensa cristã da Diocese de Coimbra. Em Castanheira de Pera é grande o seu legado.
Obrigado Monsenhor!



                                                              Francisco H. Neves 


(1)   «S. Domingos e a Ordem dos Pregadores» – Fátima. «Legenda de São Domingos» - Coimbra 


PS.

Texto publicado também no jornal «O Ribeira de Pera» do dia 16 de Maio 2015, onde se encontram os links para a página electrónica: 


quinta-feira, 19 de março de 2015





POVOAMENTO. O FONTÃO VEIO DA ORTIGA (I)

Na sequência do terramoto de 1755 o padre-cura da Castanheira elaborou em 1758 circunstanciado relatório onde, além do mais, menciona os 22 lugares da freguesia, entre eles o Fontão e a Ortiga, ambos citados duas vezes, sendo a segunda vez por serem lugares serranos. (Cf. Monografia p. 114/115).
É claro que a Ortiga do séc. 18 não tinha o âmbito geográfico em que é tida hoje, a ponto de chegar quase às abas do Vale das Figueiras. A Ortiga primitiva situava-se lá em cima, enquistada na serra, um bocado abaixo do Parque Eólico, um pouco abaixo da mina das Fontanheiras, em fazenda algo chã algo inclinada, área hoje pertencente em parte, a herdeiros de António Henriques Tomaz.
Até aos anos cinquenta do século passado ainda ali eram visíveis ruinas das moradas, botaréus, castanheiros, pequenos pomares, pastagens, trilhos, nascentes de água, regos. Hoje restam as ruinas de algumas paredes e mato. O demais ficou debaixo dos eucaliptos.
Mas passemos ao tópico. Foi há mais de 50 anos que, numa estival cavaqueira da juventude, pela primeira vez ouvimos um amigo revelar com ênfase: «E o Fontão veio da Ortiga!». O que logo um circunstante mais velho ratifica: «É verdade, o Fontão veio da Ortiga!»
E hoje, volvido mais de meio século, indagando, constata-se ainda haver gente que se recorda da frase, mas nem sempre conhecendo o seu conteúdo. 
Ora «o Fontão veio da Ortiga», segundo a tradição oral, significa exactamente isso: que os primeiros moradores do Fontão, os seus fundadores como lugar, desceram da Ortiga. E que assim a Ortiga, como povoado, é anterior ao Fontão.
E daí o ter ficado a constar nas cartas «serra da Ortiga» e não «serra do Fontão». Melhor dito «cume da Ortiga», como assinala a carta militar nº 264.
E pela mesma razão, mais recentemente ainda, a denominação de «Parque Eólico da Ortiga», (parque bem visível na serra, a poente da vila).
Mas, para além da tradição e do cume, o sentido da frase pode ainda iluminar-se com a resposta a este quesito: se o Fontão veio da Ortiga, então donde veio a Ortiga?
Vamos passar por lá.
***
Na Grande Enciclopédia PB (vol.39/209) encontra-se publicado um interessante estudo sobre a toponímia da vizinha freguesia de Campelo, referindo-se vinte e oiro (28) lugares a saber: «Aldeia Fundeira, Alge, Campelinho, Campelo, Casal, Casas Velhas, Castelo, Coito, Eiras, Fontão Cimeiro, Fontão Fundeiro, Fonte da Corte, Moinho Novo, Molhas, Pé de Janeiro, Peralcovo, Ponte Fundeira, Porto Oliveira, Póvoa, Ribeira Velha, Searas, Serradas, Singral Cimeiro, Torgal, Trespostos, Vale da Lameira, Vale Vicente e Vilas de Pedro». 
E, após breves considerandos acerca de alguns destes apelativos o estudo conclui:
«Esta toponímia, medieva, mas nitidamente já nacional, só pode ter uma lição: a de um repovoamento efectuado a partir de meados do séc. XII ou até já desde 1136 a foro de Miranda». 
Ora, como é notório, a «serra da Ortiga» constitui-se “paredes-meias” com a região de Campelo. Lugares na encosta de lá, lugares na encosta de cá.
Pois bem, o povoado inicial da Ortiga tem de se enquadrar no povoamento global de toda esta região serrana. A Ortiga terá sido como que o 29º lugar do Alge/Campelo que, escalando a serra, trepou cá para este lado, aqui se fixando. 
Vizinhos de cá, vizinhos de lá. Intercâmbio recíproco. 
Depois a Ortiga inicial terá crescido até que, em época imprecisa, mas que se situa bem antes de 1502, alguns dos seus moradores desceram para criar o Fontão. 
O topónimo Fontão poderá até ter constituído, ao tempo, como que uma “geminação” com o Fontão Fundeiro (ou Cimeiro) daquela região de Campelo. 
O solo do Fontão era convidativo. Chão amplo e fértil. Água abundante. Uma boa várzea, (várzea aliás, que ainda hoje a carta militar assinala).
Aqui se criou e desenvolveu uma laboriosa povoação que, em 1502 já intervém no processo da criação da Paróquia de São Domingos da Castanheira, através de um seu morador, (Vasco Esteves). Os dois lugares - Fontão e Ortiga – viveram então em paralelo, como regista o padre-cura em 1758.
O Fontão aí está nestes nossos dias. Quanto à Ortiga primitiva acabou como povoado há cerca de um século. 
Quanto ao intercâmbio entre as populações das duas vertentes da serra sempre se manteve. Ainda se recorda sacrificada gente «de trás da serra» (Ribeira Velha, Vilas de Pedro, etc.) atravessar os trilhos serranos, carregando sacos às costas ou cestas à cabeça de produtos agrícolas para vender no mercado da Castanheira.
Do alfaiate da Castanheira trepar a serra a pé para tirar a medida e fazer os fatos.
Dos músicos da Filarmónica Castanheirense, fardados, com os seus instrumentos às costas, serra fora a pé (ir e vir), para actuar nas Festas da Ribeira Velha.
Hoje a estrada do Espinhal facilita o intercâmbio. O problema é que agora escasseia gente para o exercer!  
Resumindo:
O Fontão veio da Ortiga e a Ortiga veio da região do Alge/Campelo. Mas aqui surge uma terceira questão: afinal donde é que vieram os povos para o “repovoamento” do Alge/Campelo no séc. XII?  
Vamos tentar passar por lá em próximo número. Venha connosco. Pode ser que nos
encontremos. Ou nos cruzemos!
Francisco H. Neves
PS. Texto publicado também no jornal RIBEIRA DE PERA do dia 16 de Março de 2015 in

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015



A FUNDAÇÃO DO CONCELHO  

17 DE JUNHO A DATA DA FUNDAÇÃO 

4 DE JULHO A DATA DA COMEMORAÇÃO 

O SITE OFICIAL


Que o cidadão comum nascido no dia 17 de Junho, por sua livre e espontânea vontade celebre o seu aniversário sempre no dia 4 de Julho, data em que reiteradamente recebe os seus familiares e amigos, é uma questão do seu foro interno, assunto da sua vida privada.

Agora que o município de Castanheira de Pera, nascido no dia 17 de Junho, comemore solene, festiva e reiteradamente os seus aniversários sempre no dia 4 de Julho, é assunto que carece da devida e contínua explicação, visto que estamos aqui no âmbito da coisa pública.   

Mas uma tal explicação contínua, afora breves referências dispersas, tem escasseado ao longo do século, quer no município quer na sociedade civil.   

E daí a existência de jovens castanheirenses de 10, 20, 30, (40, 50) anos de idade, portadores da convicção (erradamente) adquirida de que o 4 de Julho é a data da fundação do concelho.  

No sentido do ajudar a esclarecer vamos dar uma volta pelo caso.     

A existência de um novo serviço público pressupõe, em princípio, dois momentos: o momento da sua criação (no papel) e o momento da sua instalação (no terreno). E isto é assim porque, entrementes, haverá todo um processo logístico a cumprir.   

Criação.
O concelho de Castanheira de Pera foi criado pela Lei nº 203 de 17 de Junho de 1914, publicada na mesma data no DG-I Série nº 99.

E como a data da criação das pessoas jurídicas é a data da publicação no jornal oficial do diploma que as criou, temos que o dia 17 de Junho é que é, efetivamente, a data da fundação do Concelho de Castanheira de Pera. 

Nesse tempo as leis entravam em vigor em todo o continente ao terceiro dia depois de publicadas, daí que o município de Castanheira de Pera tenha adquirido plena personalidade jurídica a partir do dia 20 de Junho de 1914, (vacacio legis, decreto 30/6/1913, DG 151 de 1/7). 

Instalação.
E para cuidar do tal processo logístico foi a seguir nomeada, por decreto de 27/6, publicado no DG- II Série de 1/7/1914, uma comissão organizadora com a especial missão de «…dirigir os negócios de simples expediente, até à posse da Câmara que for eleita».

Ora foi precisamente esta comissão organizadora que, com pompa e circunstância, (alvorada, sessão solene, arraial popular) tomou posse, isto é, foi instalada aqui em Castanheira de Pera no dia 4 de Julho de 1914, acto tido ao tempo como de «inauguração do concelho». (Cartaz na Monografia/140).[1]
E foi certamente esta a motivação porque a data do 4 de Julho foi a politicamente escolhida ao tempo para feriado municipal[2] dentro do qual sempre se inseriram, ao longo do século, as comemorações concelhias da fundação do concelho.    

Quer dizer, o 4 de Julho é o dia em que se celebra a fundação do concelho, mas não é o dia da fundação do concelho. O dia da fundação do concelho é o 17 de Junho.  

Em linguagem canónica diríamos que o concelho nasceu em Lisboa no dia 17 de Junho e foi baptizado em Castanheira de Pera no dia 4 de Julho.  

Estas duas datas estão intrinsecamente ligadas entre si, de tal modo que uma não seria viável sem a outra. Não seria possível um 4 de Julho, sem um 17 de Junho. Daí que as comemorações concelhias a ambas houvesse de contemplar. Sucede porém que, ao longo do século, sempre o 4 de Julho foi enfatuado e o 17 de Junho minimizado.  

A começar pela própria Lei 203 que tem andado algo “reservada”, dela não existindo um original afixado, enquadrado, em qualquer departamento concelhio. Nem fotocópia dela de vê inserida (página inteira) nas publicações oficiais do município (boletim, monografia, revista, site). E a sociedade civil, conformada, nem um calendário distribuiu.  

Depois o 17 de Junho (dia da fundação) não tem “aparecido” nas festas concelhias. Realmente neste dia, nem alvorada, nem arruada, nem acto religioso ou simbólico. Nem consignado nos cartazes do 4 de Julho que a festa provém do 17 de Junho. 

E agora ainda, na informação, este trecho inserido no site oficial do municipio, susceptível de causar perplexidade aos visitantes:     

«A lei n.º 203, que aprovava a criação do concelho, foi publicada no Diário do Governo, I ª série, n.º 99, de 17 de Junho de 1914. Em 4 de Julho de 1914, é fundado o concelho de Castanheira de Pera».   http://www.cm-castanheiradepera.pt/historia.asp
Com o devido respeito pela boa vontade do seu autor, dir-se-á, contudo, que a Lei 203 não só “aprovava a criação”, a lei 203 criou desde logo o concelho. Depois criação e fundação são termos sinónimos, significam exactamente o mesmo, a ideia de nascimento, nascimento que ocorreu em 17 de Junho. O que depois se passou em 4 de Julho foi, como vimos, a instalação da comissão organizadora. A primeira Câmara eleita só tomou posse em Setembro de 1914.

O site oficial do município carece de ser revisto, nesta parte, para que erros em trabalhos escolares, jornalísticos ou outros, inadvertidamente, se não cometam.
Importa que os cidadãos fiquem cientes do sentido e alcance de cada data. 
E, por fim, dir-se-á que um ano destes, aquando das celebrações concelhias, o «4 de Julho» passará por lá, na casa do «17 de Junho» e ambos trocarão um cordial abraço. E quanto à centenária Lei 203, de capa velhinha, mostrar-se-á de corpo inteiro aqui na página eletrónica.    

Francisco H. Neves
PS.