domingo, 19 de julho de 2015


TEXTO ESCRITO EM 1954 POR FRANCISCO HENRIQUES TEIXEIRA


(Funcionário do Registo Civil e Notariado de Castanheira de Pera)

NOBRE A EXPRESSÃO – FUNDA A MOTIVAÇÃO

  

Personalidade.
Francisco Henriques Teixeira nasceu no dia 21/4/1916, na vila de Castanheira de Pera, filho de Abelino Henriques e de Maria Emília. E aqui faleceu no dia 3/7/1988, no estado de casado com D. Maria da Soledade Tomaz, filha de Jacob Tomaz, da Sapateira. Tinha 72 anos de idade. Depois de alguns anos de estágio no privado (Pomar), ingressou oficialmente, no quadro do Registo Civil e Notariado de Castanheira de Pera, no dia 11/7/1938. E aqui se manteve até à sua aposentação em 21/4/1986, por limite de idade, (70 anos). Para trás deixou 48 anos de efectiva e rara dedicação ao serviço. Foram 48 anos de exercício diário, permanente, sem nunca ter tirado, sem nunca ter gozado uma única semana de férias! Isto tem de ser dito em voz alta e consignado para história futura, porque tal feito constitui, porventura, caso único a nível nacional. Passado e documentado aqui em Castanheira de Pera!

Teve, sucessivamente, como chefes da repartição, (conservadores-notários): Dr. Marcolino da Silva, Dr. Álvaro Amorim Pinto, Dr. José Bebiano Correia Henriques da Silva, Dr. Henrique Vaz Lacerda, Dr. António Bebiano Correia Henriques Carreira, Dr. José António Risques da Silva, de todos granjeando consideração e estima. Classificado de «Bom com distinção», no âmbito do Ministério da Justiça.

Tinha a sua maneira peculiar de ser, que ainda hoje arranca um espontâneo sorriso nos amigos, quando dele se recordam… Mas para si não havia horário de trabalho, nem feriados, nem fins-de-semana, se necessário. Sempre prestável, mormente nas férias de verão, quando aqui ocorria gente vinda de toda a parte (Lisboa, Europa, África, Brasil), para tratar dos diversos actos notariais. É claro que este modelo de funcionário está hoje em desuso, além do mais, pelos inconvenientes que trás, para o próprio e para a sua família. Mas ele – certo ou errado - teve essa determinação, essa firmeza, essa vontade de demonstrar capacidade. Só que depois, além do mais, nem tempo de vida teve para gozar a sua pensão. Um caso para meditar.   

Nobreza.
No jornal «O Norte do Distrito», de F. Vinhos, na sua edição de 10/3/1954, vem publicado um artigo da sua autoria, intitulado «Castanheira de Pera – Vila prodigiosa», em que, além do mais, insere uma lista de ilustres personalidades nascidas em Castanheira de Pera, (caixa ao lado). Trata-se realmente de um elenco nobre, uma lista expressando a nobreza numa tripla dimensão. Desde logo nobre em sentido nobiliárquico, visto que abre com os nomes dos dois Viscondes, nascidos em Castanheira de Pera. Depois nobre em sentido académico, visto tratar-se de uma plêiade de diplomados pelas escolas superiores, oriundos desta terra geograficamente pequena, homens que vieram a exercer altas funções nas academias e nos quadros superiores do Estado. E nobre ainda no sentido do trabalho, visto que foram alguns destes diplomados, bem entendido, juntamente com outras personalidades e povo anónimo que, todos juntos, unidos, colaboraram, trabalharam, ergueram aqui em Castanheira de Pera uma indústria de lanifícios, referência económica em toda a região centro do País. E a propósito: existirá à face da terra, nobreza maior que o trabalho profícuo, seja desempenhado por gente anónima, diplomados ou pelos próprios nobres? Agora uma nota: esta lista de «O Norte do Distrito» foi, anos mais tarde, transcrita, actualizada e anotada em «O Castanheirense» de 13/12/1959 (Elementos para a História de Castanheira de Pera e seu termo). (Infra 1).  

Motivação.
Mas afinal o que terá levado Francisco Henriques Teixeira, a publicar este texto no jornal «O Norte do Distrito» em Março de 1954? Qual a sua razão de fundo? Será difícil encontrar-se alguém hoje (2015), mesmo dentre as pessoas mais idosas, que ainda se recorde do episódio. Mas, tanto quanto a nossa memória alcança, o que se terá passado foi sensivelmente isto: o nosso bom homem, na qualidade de funcionário notarial, dirigiu-se ao tribunal da comarca (edifício antigo), para tratar de acto oficial agendado. E terá sido aí que, um ilustre profissional do foro, se lhe terá referido à Castanheira, em termos que o bom Francisco, interiorizou como uma menorização da sua terra. Sentido lá no fundo da sua alma castanheirense, vem daí, elabora uma lista nobre e pede «…todo o respeito pela sua terra ».  E, para que a sua mensagem não fique pelo caminho, fá-la publicar exactamente na sede da Comarca!

Gratidão.
Francisco Henriques Teixeira foi assim, oficialmente, funcionário do Registo Civil e Notariado entre 1938 e 1986. A partir de 16/2/1959 fomos um dos rapazes que por ali se iniciou a aviar recados. Foi com ele que tomámos as primeiras noções de trato com público. E foi ali que folheámos pela primeira vez um código, como quem folheia um jornal. Obrigado mestre Francisco! E lá em «Cima», onde estiver, que esteja bem. Enquanto cá em baixo, todos podem visitar a sua foto e conhecer melhor a sua filosofia de vida, na desenvolvida entrevista que nos concedeu e está publicada no jornal «O Castanheirense», de Julho de 1983. (Infra 1).

 Francisco H. Neves


PS.  Texto publicado também no jornal O RIBEIRA DE PERA onde se encontram os links. para os jornais  «O Norte do Distrito» e «O Castanheirense» :