quarta-feira, 24 de junho de 2015

 

 Crónica da Fraga

Por todo o concelho – As famílias dos «Henriques»

Patronímico.
Não vamos aqui fazer genealogia, que para tal não estamos habilitados. Mas uma simples constatação: existe uma grande implantação do sobrenome «Henriques» nas famílias do concelho de Castanheira de Pera. Há «Henriques» nos Coentrais, na Balsa e nas Sarzedas, na Gestosa Cimeira e na Fundeira, no Fontão e no Troviscal, muitos na vila e em outros lugares. E, todavia, não existe uma única família que seja conhecida pelos «Henriques». O «Henriques» é como que uma vogal doce junto de uma áspera a formar um ditongo. É possível que, desde a fundação da nacionalidade (séc. XII), haja Henriques aqui pela Ribeira de Pera. Mas, aparentemente, sem terem entrado no processo da questão dos baldios do Coentral (1467), nem no processo da criação da freguesia de São Domingos da Castanheira (1502). Certo é que em 1914, aquando da fundação do concelho, integraram a comissão instaladora oito personalidades de apelido «Henriques». Três efectivos: José Henriques Lopes, Celestino Henriques de Assunção, João Fernandes Henriques. E cinco suplentes: Carlos Henriques Carreira, Manuel Henriques Correia, António Henriques Lopes, José Henriques Miguel, Francisco Henriques. (Decreto in DG, II Série - Nº 151 de 1/7/1914). E desde então para cá - um século - tanta gente pública ou publicada de apelido «Henriques» se conhece: autarcas, camponeses, comerciantes, empresários, juristas, mesteirais, padres, professores, proprietários. Ainda recentemente Castanheira de Pera teve no Parlamento, em simultâneo, dois deputados de apelido «Henriques». É consabido que «Henriques» é o patronímico de «Henrique», adoptado por múltiplas famílias que, em termos de consanguinidade, nada têm a ver umas com as outras. Foi uma prática comum na Idade Média, quer na nobreza, quer no povo. Desde logo Afonso Henriques, por ser filho Henrique. O processo era simples é há outros patronímicos em português. (Infra site 1).

Gerações.
Cada geração computa-se, em média, nos 25 anos, donde em cada século cabem quatro gerações, quatro «Henriques», em linha recta: avô, filho, neto, bisneto, (masculino ou feminino). Assim, desde a fundação da nacionalidade até aos nossos dias, (oito séculos), cada «Henriques» de hoje é o «cabo» (caput) de uma fila de 32 ascendentes (8x4). Trinta e dois (32) «Henriques», cujo perfil terá variado ao longo das gerações. Todos poderão ter passado por fases de altos e baixos, grandes e pequenos, justos e injustiçados, legítimos e bastardos, nobres e plebeus, santos e pecadores. Cada «Henriques» de hoje será algo da sua ascendência desde os mais remotos arquiavôs. Cada um saberá da sua história. Mas se nada souber, obtendo uma certidão de nascimento ou baptismo de seu avô/avó «Henriques» algo ficará a saber do seu bisavô e trisavô. É pouco, mas para começar… Entretanto, há «Henriques» que vão ficando pelo caminho. Uns por falta de descendência, outros devido às afinidades que se vão constituindo, em que os apelidos da outra família também entram. Ainda assim, mesmo sem constar formalmente do assento, cada assim novo registado manter-se-á biologicamente um «Henriques» (consanguinidade).

Origem.
Mas afinal donde é oriunda esta plêiade de «Henriques» em toda a região de Castanheira de Pera? Também gostaríamos de saber… Mas não conhecemos estudo algum. Haverá, porventura, gente vinda de toda a parte. Mas afigura-se que o maior fluxo poderá ser oriundo de uma destas regiões ou das duas juntas: Primeira hipótese, um fluxo de «Henriques» (apelido) ou ainda «Henrique» (nome próprio), irradiando (fugindo) da região de Coimbra/Mondego, aquando das guerras da reconquista cristã (séc. XII), calcorreando estas serranias, nascentes do Alge, Pera e Mega, por aqui se refugiando e fixando. E quando hoje se diz haver por aqui muita gente de Mega, poderá tratar-se de gente que já antes por aqui transitara … Segunda hipótese, um fluxo de «Henriques» irradiando das terras da Beira Baixa para aqui se refugiar, aquando de datas e situações conhecidas: reis católicos expulsam judeus (1492); D. João II admite entrada; filha dos reis católicos casa com Manuel I de Portugal, na condição deste expulsar judeus; D. Manuel I por uma lei expulsa, mas por outra impede a sua partida, (por se tratar de cientistas, quadros superiores, banqueiros, artesãos, mercadores de têxteis, sedas e lanifícios); Cristãos-Novos (1497/1733); Criptojudaísmo; Inquisição (1536/1821). Sendo que o sobrenome «Henriques» foi um dos mais adoptados pelos cristãos-novos e dos mais citados nos documentos da Inquisição. (Infra site 2). Veja-se, a propósito, a saga dos «Henriques» do Sabugal (Infra site 3). Hoje está tudo mesclado. Mas é possível que tenha havido por aqui alguma miscigenação judaica. E que a própria indústria de lanifícios tenha aí a sua origem remota. Assunto para especialistas.

Testemunhos.
Mesmo ao visitante que nada conheça da terra, será fácil constatar a presença elevada dos «Henriques». Basta reparar nos epitáfios, nos quatro locais do concelho. Ainda agora, na edição de Maio, de «O Ribeira de Pera», dentre os nove decessos noticiados (necrologia), quatro são «Henriques». Outro indicador objectivo está nos baptizados, casamentos, falecimentos e vida do jornal, noticiados ao longo das 19 edições do jornal «O FACHO» - Boletim das Paróquias de Castanheira de Pera e Coentral, (1961/64), edições agora on-line na página electrónica. (Infra site 4).

Padre Adelino Henriques (1939-1988).
E, a terminar, uma referência à memória do Padre Adelino Henriques, nascido na Sapateira, no dia 9/5/1939, filho de Manuel Henriques e de Maria da Piedade Henriques. Foi ordenado na Sé Catedral de Coimbra no dia 28/6/1963 e no dia 15/8/1963 celebrou em Castanheira de Pera (Igreja Paroquial) a sua missa nova. Entre outros cargos foi director do jornal «A Voz do Papa». Faleceu em Coimbra no dia 12/9/1988, aos 49 anos de idade. Em sua memória convidamos os leitores a visitar a sua fotografia e a notícia desenvolvida da sua ordenação e missa nova, no jornal «O FACHO» de luz nºs 17/18, onde também se encontra a sua primeira saudação aos paroquianos da sua terra. Padre Adelino Henriques: «Um dos nossos ascendeu à dignidade do sacerdócio». (Infra site 4).

Francisco H. Neves


PS. Texto também publicado no jornal O RIBEIRA DE PERA de 16/6/2015, onde se encontram ativos os 4 sites citados :